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5.03.2008

A Espada

Uma família de classe média alta.Pai,mulher,um filho de 7 anos.Era noite em que o filho fez 7 anos.A mãe recolhe os detritos da festa.O pai ajuda o filho a guardar os presentes que ganhou dos amigos.Nota que o filho esta quieto e sério,mas pensa:"é o cansaço."Afinal ele passou o dia correndo de um lado para o outro,comendo cachorro-quente e sorverte,brincando com os convidados por dentro e por fora da casa.Tem que estar cansado.
-Quanto presente,hein,filho?
-É.
-E essa espada.Mas que beleza.esta eunão tinha visto.
-Pai...
-E como pesa!Parece uma espada de verdade.É de metal mesmo.Quem foi que deu?
-Era sobre isso que eu queria falar com você.
O pai estranha a seriedade do filho.Nunca o viu assim.Nunca viu nenhum garoto de 7 anos sério assim.Solene assim.Coisa estranha...O filho tira a espada da mão do pai. Diz:
-Pai,eu sou o Thunder Boy.
-Thunder Boy?
-Garoto trovão.
-Muito bem, meu filho. Agora vamos pra cama.
-Espere. Esta espada. Estava escrito. Eu a receberia quando fizesse 7 anos.
O pai se controla para não rir. Pelo menos a leitura de história em quadrinhos está ajudando a gramática do guri. "Eu a receberia..." O guri continua:
-Hoje ela veio. É um sinal. Devo assumir meu destino. A espada passa a um novo Thunder Boy a cada geração. Tem sido assim desde que ela caiu do céu, no vale sagrado de Bem Tael, Há 7 mil anos e foi empunhada por Ramil, o primeiro garoto trovão.
O pai está impressionado. Não reconhece a voz do filho. E a gravidade do seu olhar. Está decidido. Vai cortar as histórias em quadrinhos por uns tempos.
-Certo, filho. Mas agora vamos...
-Vou ter que sair de casa. Quero que você explique à mamãe. Vai ser duro para ela. Conto com você para apoiá-la. Diga que estava escrito. Era o meu destino.
-Nós nunca mais vamos ver você?-pergunta o pai, resolvendo entrar no jogo do filho enquanto o encaminha, sutilmente, para a cama.
-Claro que sim. A espada do Thunder Boy está a serviço do bem e da justiça. Enquanto vocÊs forem pessoas boas e justas poderão contar com a minha ajuda.
-Ainda bem-diz o pai.
E não diz mais nada. Porque vê o filho dirigir-se para a janela do seu quarto, e erguer a espada como uma cruz, e gritar para os céus: "Ramil!". E ouve um trovão que faz estremecer a casa. E vê a espada iluminar-se e ficar azul. E o seu filho também.
O pai encontra a mulher na sala. Ela diz:
-Viu só? Trovoada. Vá entender este tempo.
-Quem foi que deu a espada pra ele?
-Não foi você? Pensei que tivesse sido você.
-Tenho uma coisa pra te contar.
-O que é?
-Senta, primeiro.

(Comédias para se ler na escola - Luis Fernando veríssimo- pag.19 à 21)